Star Wars IV: Uma nova esperança (1977)
Em outubro de 2012, meios de comunicação especializados deram uma notícia que pegou a todos de surpresa: Star Wars, a franquia multimilionária de George Lucas, havia sido vendida para a Disney por US$ 4 bilhões, em um negócio que não só consumava a aposentadoria do criador da saga como sinalizava a continuação das histórias da família Skywalker nos cinemas. Passado o susto e sendo bombardeados com notícias diárias sobre o making dos episódios VII, VIII e IX – bem como de filmes separados sobre personagens icônicos – os fãs da série devem se perguntar qual será o resultado final deste retorno da franquia intergaláctica aos cinemas. Teremos produções do nível da trilogia clássica? Ou apenas longas-metragens anabolizados com efeitos especiais como vimos nos episódios I, II e III? Especular o caminho a ser seguido é um exercício de futurologia que não me atreverei a fazer aqui. No entanto, é louvável que tenhamos a oportunidade de conferir a continuação para as aventuras de personagens tão marcantes quanto Luke Skywalker, Han Solo e Princesa Leia. Mesmo que eles não sejam os protagonistas dos novos filmes, será uma sensação agradável revê-los em novas tramas.
O que nos faz voltar a 1977, quando o primeiro Star Wars foi lançado – época em que, aqui no Brasil, a produção ainda utilizava seu simpático título em português Guerra nas Estrelas. Em um tempo em que os filmes-evento estavam começando a surgir (sendo Tubarão, em 1975, o marco zero dos blockbusters), Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança era um verdadeiro colírio para os olhos de qualquer fã de ficção científica. Com efeitos especiais fantásticos para a época e com uma história que empregava de forma muito competente a jornada do herói, George Lucas mostrou-se um sujeito de visão, empregando os conceitos das antigas matinés seriadas com tudo que uma grande produção hollywoodiana poderia contar.
Na trama, o temível Império constrói uma unidade bélica capaz de destruir planetas num piscar de olhos, chamada Estrela da Morte. As forças rebeldes contrárias ao totalitarismo do imperador conseguem diagramas que revelam os pontos fracos desta arma – e que são colocados dentro do dróide R2-D2 antes de Leia (Carrie Fisher) ser capturada pelo temível Darth Vader. O robô, ao lado do seu eterno parceiro C-3PO, tem uma missão: encontrar Obi-Wan Kenobi (Alec Guinness), um velho Jedi que, agora, vive como um eremita no planeta Tatooine. O caminho desses dróides se chocará com o jovem Luke Skywalker (Mark Hamill), uma figura que se mostrará chave na batalha contra o Império. Contando ainda com a ajuda do audacioso e petulante Han Solo (Harrison Ford) e com o temperamental Chewbacca, a força rebelde terá de lutar arduamente para fazer frente ao perigoso Darth Vader.
Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança é uma aventura deliciosa, comandada de forma competente por George Lucas, cineasta que cria com maestria uma gama de personagens riquíssimos para acompanharmos. A saga não teria o sucesso que possui não fossem as corajosas peripécias de Luke Skywalker, o charme arrogante de Han Solo, a bravura precursora do girl power de Princesa Leia e, claro, a ameaça sempre presente de um dos maiores vilões do século XX, Darth Vader. Tudo no personagem funciona de forma perfeita – a voz de trovão (de um, na época, não creditado James Earl Jones), o chiado de sua respiração, a capa preta, a máscara. Não é a toa que em qualquer lista de grandes bad guys do cinema, Vader não raro está as encabeçando.
Ao misturar efeitos especiais de primeira com uma aventura cativante – e que tem até um ritmo lento para os parâmetros atuais – Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança foi o pontapé inicial para uma franquia que até hoje rende frutos, conquista novos fãs e que continua passando mensagens edificantes como coragem, amizade e respeito. Nada mal para uma produção que, tão desacreditada na época pelo estúdio, viu seu criador conseguir todos os direitos para si, em um negócio que poderia ser de risco para Lucas caso o filme fosse um fracasso. 35 anos depois e 4 bilhões de dólares mais rico, o criador de Star Wars não poderia ser mais bem sucedido.
Interessante como a trilha não se prende aos limites da música clássica, mas também há uma interessante passagem pelo Jazz nas excelentes Cantina Band e Cantina Band #2. Entram trompetes, clarinetas, bateria e até tambores de aço (inserindo uma típica sonoridade caribenha) trazendo uma melodia animada que diversifica a trilha, insere um certo tom humorístico, além fazer a faixa virar um clássico da música.
Vale dizer que a brilhante trilha sinfônica possui os elementos essencias para musicalizar um filme como Star Wars. A multiplicidade de instrumentos de sopro (aliás, destaque para a bela flauta na marcante Princess Leia’s Theme) e o rufar de tambores a todo momento nos transfere para o ambiente imperial do filme, além de transmitir um clima de batalha. Está aí um ponto essencial para trilhas sonoras: inserir perfeitamente o ambiente da obra, o que aqui é perfeitamente executado. E aqui fica uma observação de como precisam ter cuidado com a trilha do novo filme a ser lançado esse ano (não preciso nem dizer que uma típica trilha de Hans Zimmer não funcionaria), mas já que se trata do mesmo John Williams, “in Williams we trust”.
A trilha de Star Wars pode ser dita uma expressão musical rara e do mais alto nível. Principalmente porque os tempos mudaram. A simplicidade, a sinceridade e a competência com que foi feita é bem diferente do que seria considerado um alto nível hoje, visto que as ferramentas mudaram e as trilhas passaram a ser produzidas e editadas cada vez mais dentro de estúdios e menos executadas em concertos. Isso não diminue os méritos nem de uma obra e nem de outra, afinal, são novos tempos. Mas esta aqui já possui o status de única e é seguro afirmar que igual a de Star Wars – e tantas outras desse tempo – não haverá.